Por Beto Almeida*
O giro da blogueira cubana Yoani Sanchez pelo Brasil tem se revelado,
até o momento, uma exitosa campanha de ‘over’ exposição midiática dela, numa
tentativa de distorcer a gigantesca função histórica libertadora da Revolução
Cubana e, também, numa fracassada operação da diplomacia da desintegração. Trata-se
de uma ação geopolítica da direita para tentar impedir a crescente presença
política de Cuba na América Latina e Caribe por meio de vários projetos de
cooperação, mas, sobretudo, pela criação da Celca (Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos), da qual Cuba é hoje presidente e onde foram
derrotados pelos povos da região todos os esforços da agressiva política dos
EUA para isolar a ilha caribenha. Começo por reivindicar 1% do espaço
midiático dado a ela, para discutir este outro ponto de vista.
Era previsível que a blogueira tivesse ampla cobertura da mídia. Esta
cobertura é marcada pela repetição de uma única tese e, na proporção inversa,
pela negativa em informar sobre o que é exatamente a realidade Cuba, a
começar pela informação de que Cuba exerce a presidência da Celac, o que,
para um país que foi bloqueado, expulso da OEA, atacado militarmente pelos
EUA, impedido de ter acesso pleno ao sistema financeiro internacional,
representa exatamente uma vitória de Cuba e da causa da integração
latino-americana e caribenha. Obviamente, representa um fracasso de todos os
países imperiais, de seus meios de comunicação e de personagens como Yoani
Sanches, que, observa que seu discurso é de absoluta sintonia com os polos
mais conservadores da sociedade brasileira, discurso que tem sido derrotado. O
discurso dela e da mídia brasileira que o exalta, é o discurso que quer o
fracasso da política externa brasileira de prioridade à integração com a
América Latina.
Biotecnologia: avanço técnico-científico
Seria muito informativo e educativo para o povo brasileiro se, na mesma
proporção do oferecido à blogueira, também fosse dado espaço midiático aos
cientistas cubanos para falar como um país pobre, em pouco mais de 50 anos, e
sob bloqueio, conseguiu desenvolver um indústria de biotecnologia das mais
avançadas do mundo, com medicamentos de eficácia comprovada e sucesso
internacional como o Óleo de Schostakovsky ( para a gastrite), o complexo
para combater diabetes, a vacina contra o câncer de intestino (um laboratório
dos EUA tentou comprar mas foi proibido pelo governo Bush), as vacinas contra
a meningite, etc. Antes da Revolução, Cuba sequer possuía indústria
farmacêutica, hoje exporta medicamentos, ciência, e médicos.
Países imperiais exportam soldados, armas, intervenções militares. Esta mesma
mídia brasileira que é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa,
apoiadora de todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço
para tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o
Governo Sarney. Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta mesma
mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não comprasse as
vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica e ideológica.
No primeiro caso, o Brasil tinha e ainda tem o seu setor de medicamentos
quase totalmente controlado e ocupado por umas poucas multinacionais
farmacêuticas, grandes anunciantes desta mídia, ambos lutando para não perder
o controle do mercado para as vacinas cubanas, que o governo Sarney acabou
importando em grande quantidade, apesar da pressão dos oligopólios. E era
também uma operação ideológica, com a intenção de dizer que era impossível
que uma ilha pequenina, cercada de hostilidades imperiais por todos os lados,
pudesse, com poucos anos de socialização de sua economia, ter alcançado tal
êxito técnico-científico, a ponto de transformar-se em exportadora de
sofisticados medicamentos, enquanto o Brasil, uma economia muitas vezes superior,
era ainda dependente de sua importação.
Sarney e as vacinas cubanas
A ruidosa campanha contra as vacinas cubanas na época – questionando até sua
eficácia apesar dos reconhecimentos da Organização Mundial da Saúde - era uma
desumana tentativa de intimidar o governo Sarney que, não apenas reatou com
Cuba, mas começou a realizar um processo de intercâmbio comercial, científico
e cultural com a Ilha. Vale lembrar, o ministro da Cultura de Sarney era o
inesquecível Celso Furtado... O discurso da mídia então, submisso aos ditames
imperiais, queria também impedir a criação do Mercosul, cujo fortalecimento
posterior e sua consolidação hoje, é algo que desagrada enormemente aos
inimigos da integração, pois é evidente que um Mercosul cada vez mais forte e
amplo, com a entrada da Venezuela e, proximamente, da Bolívia e do Equador,
representa uma alternativa histórica real aos “Cem Anos de Solidão” de uma
América Latina antes submissa e desunida e, agora, em processo de
transformação , com governos populares e com uma cooperação cada vez maior
com Cuba. Estamos abrindo as páginas dos Cem Anos de Cooperação...
Desintegração e fracasso histórico
A este processo de integração crescente se dirige a passagem da blogueira por
aqui e deste ponto de vista, revela-se um enorme fracasso Ela se auto
classificou como diplomata popular, mas é fácil perceber tratar-se de uma
diplomata da desintegração. O pano de fundo, o que ela e seus patrocinadores
visam, é obstaculizar a causa maior de nossas mais importantes lideranças
históricas, a começar por Simon Bolívar, José Marti, Tiradentes, Abreu e
Lima, Perón, Getúlio Vargas, Che Guevara, hoje continuados, concretamente,
pelas políticas de integração implementadas pelos governos de Lula-Dilma,
Fidel-Raul, Hugo Chávez, Evo Morales, Pepe Mujica, Nestor e Cristina
Kirchner, Daniel Ortega e o recém reeleito Rafael Correa.
Dalai Lama
Personagens como Yoani Sanches são criados em determinados momentos, recebem
as condições materiais e financeiras de circulação, publicidade e exaltação,
mas produzem, concretamente, poucos resultados práticos. Citemos outro
personagem fabricado para uma operação similar contra a Revolução Chinesa:
Dalai Lama. Sustentado por anos e anos pelo Departamento de Estado dos EUA,
que além do salário, do apartamento onde vive perto do Central Park de Nova
York, e de uma jorrante publicação de seus livros, Dalai Lama revela-se um
retumbante fracasso. Antes da Revolução Chinesa, o Tibet era um regime feudal e
escravocrata. O Brasil não foi o último país a abolir a escravidão, foi o
Tibet, e por meio de uma revolução dirigida por Mao-Tse Tung e o Partido
Comunista. Antes da vitória socialista, em 1949, a China era
conhecida pela espantosa fome que levava milhões à morte a cada ano.
Além disso, havia todo tipo de doenças evitáveis, o povo sequer conhecia
médicos. E era possível, nas feiras, comprar animais e mulheres como servas,
já que não existiam direitos trabalhistas. Hoje, apesar das inúmeras giras de
Dalai Lama pelo mundo, a China é conhecida por lançar uma nave tripulada ao
espaço sideral, por ser a economia que mais cresce no mundo, que mais fabrica
computadores e turbinas de energia solar, que lança satélites em parcerias
com a Venezuela e o Brasil, que legalizou e socializou a acupuntura (antes de
Mao era proibida) e que, em parceria com a Rússia e o Iran, está travando os
planos da Otan de invadir e esquartejar a Síria. O que se houve falar de
Dalai? A notícia mais recente é que ele estaria disposto a dialogar com as
autoridades chinesas, contrariando seus patrocinadores. Vai ter que mudar-se
do Central Park...
Cuba inclusiva?
A blogueira falou em Brasília que quer uma Cuba mais inclusiva e plural. Se
examinarmos a realidade cubana, especialmente as estatísticas elaboradas ou
reconhecidas por instituições internacionais como a Organização Mundial da
Saúde, a Unesco, a Unicef, a Organizaçao Panamericana de Saúde e se a mídia
comercial, que tanta exalta a Yoanis, desse ao povo brasileiro o direito de
conhecê-las, ficaria claro que é difícil apontar uma sociedade tão inclusiva
como a cubana. Há começar porque não existem crianças vagando pelas ruas,
crianças fora da escola, crianças pedindo esmolas, nem crianças trabalhando.
A taxa de mortalidade infantil é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde,
aliás, o trabalho infantil está em elevação, o que se agravou enormemente com
o desemprego e a crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a
indústria bélica foram salvos, como revela o Occupy Wall Street.
Não há um único hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto
não é inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes dos EUA que
trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres
Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de setembro de
2001. Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos norte-americanos, foram
levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois não tinham planos de saúde
nem tratamento médico nos EUA, onde haviam sido condecorados com heróis. Em
Cuba, foram atendidos gratuitamente nos hospitais mais avançados, os mesmo
que já trataram, depois da eleição de Chávez, 43 mil cidadãos venezuelanos. Se
a blogueira tivesse visitado hospitais no Entorno de Brasília, teria uma
ideia concreta do que é realmente a falta de inclusão.
Aliás, se o povo brasileiro pudesse ser informado, massivamente - digamos que
10 % do que a TV Globo mostra de baixarias do Big Brother, onde há z até
edificantes concursos de pum - sobre um único relatório da UNICEF em que se
afirma que “Existem 200 milhões de crianças desnutridas no mundo hoje. Nenhuma
delas é cubana!”, entenderia mais claramente os absurdos ditos por esta
personagem.
Bloqueio
Houve um tempo em que os opositores de Cuba, inclusive a blogueira, diziam
que o bloqueio dos EUA era apenas uma desculpa de Fidel para desviar a
atenção dos problemas internos. Agora, quando o bloqueio recebe múltiplas
condenações na ONU, sendo defendido apenas pelos EUA, e por razões óbvias de
subordinação pelo Canadá, Israel e um ilha desconhecida do Pacífico, sendo
criticado até mesmo pelo New York Times e pela Revista Forbes, a blogueira
foi orientada a mudar o discurso e admite ser contrária a esta escandalosa
violação dos direitos humanos do povo Cuba por parte da Casa Branca,
proibindo à ilha uma simples operação comercial para a compra de aspirinas no
mercado norte-americano.
Aliás, ela disse também ser a favor da libertação dos 5 heróis cubanos
prisioneiros políticos nos EUA, por trabalharem na prevenção dr atentados
terroristas organizados em território da pátria de Jack London. Alertado por
Fidel Castro, em carta entregue pelo genial Gabriel Garcia Marques, o
presidente Bill Clinton, ao invés de fazer uso das informações para evitar
atentados terroristas que estavam e organização, como os de Oklahoma ou os de
11 de setembro de 2001, preferiu prender os cinco cidadãos cubanos.
Aliás, agora que até a blogueira já fala o fim do bloqueio, dando razão ao
governo de Cuba, e também a Lula e Dilma que sempre se pronunciam em defesa
da posição do governo cubano, vale comparar a situação vivida por Yoani
Sanchez - que não está presa, comunica-se com o mundo inteiro a partir de
Cuba ou fora dela, viajando por mais de 12 países para criticar a Revolução
Cubana - com a situação do soldado norte-americano Bradley Manning, preso e
torturado em prisão militar dos EUA, por ter revelado ao mundo, corajosa e
generosamente, com a ajuda do Wikileaks, os documentos sigilosos contendo os
planos mais sinistros do imperialismo para atacar e desestabilizar vários>
países e governos ao redor do mundo. Ou comparar com a situação de Mumia Abu
Jamal, jornalista e militante negro, preso no Corredor da Morte, condenado
injustamente por um juiz racista que coleciona sentenças de pena de morte
especialmente para negros, asiáticos, hispânicos e pobres que vivem por lá. O
“delito” de Abu Jamal é escrever com coragem e talento sobre o regime
discricionário vigente nos EUA, onde, há pouco, foi proibida a sintonia por
satélite de canais de TV do Irã, desmascarando-se, assim, o falso discurso da
liberdade de expressão reivindicado pela Casa Branca. Bom, eles já haviam
proibido o ingresso de Charles Chaplin por lá...
Medicina e humanismo
Tive a oportunidade de visitar a Escola Latino Americana de Medicina (ELAM),
instalada numa antiga base naval desativada próximo a Havana e lá conversei
com representantes dos mais de 500 estudantes negros estadunidenses, oriundos
dos bairros pobres do Harlen ou do Brooklin. Eles me contaram que jamais
teriam a oportunidade de se formarem em medicina nos EUA, sendo muito mais
provável, pelas condições precárias de vida que tinham lá, que fossem
recrutados pelo narcotráfico e terminassem presos. Aliás, os EUA possuem a
maior população carcerária do mundo... Em Cuba, estes jovens estão estudando,
gratuitamente, para serem médicos.
Compartilhar o que tem, não o que sobra
Ante aos agressivos ataques do Pentágono e da CIA contra a Revolução Cubana,
esta se defende, legitimamente, mas também reage com humanismo, oferecendo
aos filhos pobres da pátria de Lincoln a possibilidade de escapar da
criminalidade e servirem socialmente ao povo norte-americano, a quem se
respeita em Cuba, a ponto que jamais se queimou uma bandeira dos EUA em
território cubano. Enquanto a Casa Branca envia terroristas e guerra
bacteriológica contra Cuba - como denunciou um ex-ministro da saúde dos EUA -
Cuba envia médicos formados para o povo norte-americano! É a este país, que
reparte seus modestos recursos orçamentários com outros povos, que a
blogueira afirma não ser inclusivo?
Vale lembrar o desastre do Furacão Katrina: enquanto a população negra e
pobre estava abandonada em
Nova Orleans pelo governo de Bush, Cuba ofereceu o envio
imediato de 1200 médicos para salvar vidas ali. Eles ficaram toda uma manhã
posicionados no aeroporto de Havana esperando autorização da Casa Branca para
embarcarem para os EUA. A autorização nunca veio. E a blogueira, que
reivindica uma Cuba inclusiva, não toca no tema.
Cuba plural?
Houve um ano, 1984, em que a Unesco reconheceu ter Cuba batido um recorde na
publicação de livros, que lá são vendidos a preços de um picolé ou menos. Foram
480 milhões de exemplares publicados naquele ano. Entre estas obras há
Guimarães Rosa, com tiragem superior a 150 mil exemplares, quando no Brasil,
com um indústria gráfica 50% ociosa, a tiragem padrão é de apenas 3 mil
exemplares. Em Cuba há mais pleno acesso à literatura universal, ao cinema
internacional, o cinema é uma atividade popular, com ingressos baratos e
salas cheias. Já foi produzida em Cuba uma rádio-novela sobre a Coluna
Prestes, quando aqui ainda não há sequer projetos para uma grande produção
cinematográfica sobre o tema.
Como seria educativo se a presidenta do Instituto do Livro Cubano, Zuleika
Romay, uma mulher negra e jovem, pudesse ter 5% do espaço televisivo que foi
dado à blogueira para desprestigiar a Cuba, inclusive quando afirmou que
concordaria com hospitais e escolas privadas na Ilha, o que revela seu
pensamento nada inclusivo, já que serviços privados só são acessíveis a quem
paga, e na Cuba atacada pela mídia conservadora, a educação e a saúde são
públicas e gratuitas. Milton Nascimento, numa turnê pela Ilha, sentiu-se mal
e foi atendido por médicos em seu hotel. Ao final, quis pagar, recebendo como
resposta que em Cuba saúde é um direito de todos e que isto não se vende.
Cuba, Brasil e Haiti
Quando a tragédia do terremoto assolou o Haiti - um geólogo cubano havia
alertado anos antes que eram altíssimas as probabilidades de um terremoto com
epicentro cerca de Porto Príncipe - os médicos cubanos já eram responsáveis
há anos, praticamente, pelo o que havia restado de serviço de saúde ali ante
tanta miséria construída pelos países imperiais que dão sustentação à
blogueira. O Brasil também estava lá, com o maior número de soldados, que
também realizam obras de infraestrutura. Mas, a partir do terremoto Brasil e
Cuba passaram a colaborar mais centradamente na área da saúde, e, com um
financiamento de 80 milhões de dólares do governo brasileiro, foram
construídas instalações de saúde para o povo haitiano, no qual trabalham as
centenas de cubanos que já estavam lá há anos, juntamente com médicos
militares brasileiros. Como parte desta cooperação, além da saúde, o Batalhão
de Engenharia do Exército está construindo a única hidrelétrica por lá, além
de rodovias e pontes.
Impublicável: cooperação sul-sul-sul
Em 2006, a
Organização Mundial da Saúde, lançou um SOS Internacional: precisava de
produção massiva, a preços baixos, de vacina contra meningite A e C para
entregar a 23 países da África, onde vivem 430 milhões de seres humanos. Só
uma empresa transnacional fabricava estas vacinas, mas devido à baixa
lucratividade, reduziu sua fabricação colocando a África sob o risco de
emergência sanitária. Só dois laboratórios públicos atenderam ao chamado da
OMS: Instituto Finlay de Cuba e o Instituto Bio-Manguinhos do Brasil. Os dois
se associaram para a criação da vacina Vax-MEN-AC, específica para os tipos
de meningite que afetam a África. A cooperação Brasil-Cuba permitiu um preço
20 vezes menor do praticado pela transnacional e já foram produzidas e
entregues 19 milhões d doses.
Esta é uma notícia impublicável nos grandes meios que abrem todo espaço à
blogueira e que hiper divulgam as ações financiadas pela Fundação do
Multibilionário Bill Gates, de impacto mínimo, conduzidas por operações de
marketing de empresas privadas, aquelas que não se interessaram em atender ao
apelo da OMS. Brasil e Cuba, com governos de orientação de esquerda, por meio
de laboratórios públicos, fazem mais contra a meningite na África que as
transnacionais e a fortuna de Bill Gates. A blogueira não fala nada disso no
seu blog, nem nas suas entrevistas, mas pede uma Cuba mais inclusiva e
plural.
Cuba, Brasil e Timor Leste
Em visita de trabalho ao Timor Leste, onde a TV Cidade Livre de Brasília e o
Comitê de Brasiliense de Solidariedade ao Timor doaram os equipamentos de uma
rádio comunitária às organizações educacionais locais, pude visitar, também,
o alojamento de 400 médicos cubanos que lá trabalham em solidariedade ao povo
maubere. Comentei a visita com o Presidente da República, Ramos-Horta, Prêmio
Nobel da Paz, que recebia o Presidente Lula. Ele me contou que ter sido
pressionado pelo Embaixador dos EUA lá a não receber os médicos de Cuba,
oportunidade em que perguntou ao gringo: “Quantos médicos norte-americanos
temos aqui?”. “Só um, o da embaixada!”, respondeu. “Pois então o povo do
Timor é muito grato a Cuba e vai sim receber os médicos cubanos”, disse-lhe
Horta.
O pensamento da blogueira é bastante sintonizado com o do embaixador gringo e
certamente não considera inclusivo que na cooperação Brasil e Cuba, os 600
estudantes timorenses que serão formados em medicina na Ilha brevemente,
antes de voltar ao Timor, façam estágio na Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil,
na área de medicina tropical.
Como se sabe, a cooperação não fica por aí. O Brasil está estudando a
contratação de um numeroso contingente de médicos cubanos para, finalmente,
levar serviços médicos a todos os municípios brasileiros, o que ainda não
ocorre. Isso sem falar dos cerca 800 brasileiros, em sua maioria pobre, inclusive,
uma centena de jovens do MST, que lá estão estudando medicina. Gratuitamente,
pois Cuba, desde o início de sua Revolução, compartilha não apenas o que lhe
sobra, mas o que tem com outros povos.
Complexo de Mariel: integração para todos crescerem. Não é casual que a
blogueira tenha iniciado sua gira pelo Brasil, país que tem participação
decisiva no mais importante projeto de infraestrutura em construção em Cuba
hoje, o Complexo de Mariel. Será o maior porto de todo o Caribe, dinamizando
a economia de toda a região, além contar com uma ferrovia, uma rodovia e uma
mineradora. Os empréstimos do BNDES são da ordem de 1,2 bilhão de dólares. Desnecessário
afirmar que, na prática significa, também, furar o bloqueio dos EUA contra
Cuba, indicando apurada visão estratégica de Lula, e, além disso, uma ideia
clara do que significa uma integração para que todos os países possam crescer
juntos, reduzindo asassimetrias e comprovando a política de que só por meio
da integração da América Latina e Caribe é possível constituir uma área
alternativa de crescimento com distribuição de renda. A blogueira está na
contramão deste projeto e é por isso que foi tratada como um troféu pela
mídia oposicionista - e por seus seguidores - que tem visto este projeto ser
derrotado nas urnas repetidas vezes, como recentemente no Equador, na
Venezuela e na Bolívia, que recém nacionalizou os serviços portuários ante a
negativa de investimentos de transnacionais espanholas.
Mandela: devemos o fim do apartheid a Cuba
Foram ouvidos muitos disparates durante a gira da blogueira no Brasil. Algumas
manifestações normais e democráticas de jovens e estudantes contra sua
presença foram tratadas como se fossem violentas. Nenhum país é mais
criticado no fluxo informativo internacional do que Cuba. Mas, o problema não
são as críticas, elas são permitidas até à própria blogueira. A questão é a
violência com que foi tratada a Revolução Cubana desde o início, sendo
obrigada a pagar um preço amargo, com muitas vidas ceifadas em atentados
terroristas como o que derrubou o Avião da Cubana de Aviación, sendo seus
autores confessos protegidos pelos governos dos EUA.
Mas, entre todos os disparates, o mais surpreendente foi contorcionismo
analítico de um editorialista do Estadão que chegou a fazer uma comparação,
meio envergonhada é bem verdade, de Yoani Sanchez com Nelson Mandela. Diante
do nível desta tentativa absurda de analogia, uma resposta grande com uma
página da História. Cuba enviou cerca de 350 mil homens em mulheres para
lutar em Angola em defesa da independência do país, invadido pelo exército
racista da África do Sul, contando com o apoio dos EUA e com a oferta de
Israel para que fosse atirada uma bomba nuclear sobre as tropas
cubano-angolanas. A solidariedade cubana escreveu uma página inapagável na
história moderna: Cuba foi o único povo a pegar em armas para lutar contra o
apartheid, o mais brutal e criminoso regime político-social dos tempos
modernos! Quando ocorre a vitória sobre as tropas racistas na Batalha de
Cuito Cuanavale, Mandela, ao livrar-se dos 27 anos de prisão, cunhou uma
frase que define com a energia de um raio, a função histórica de Cuba: “ A
Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos isto a
Cuba”.
Diante dos ataques da mídia contra Cuba, Dilma, em Havana, reagiu apontando
os telhados de vidro dos que querem ser campeões em direitos humanos mas
mantém um centro de torturas em Guantânamo e multiplica o assassinato de
civis, inclusive crianças, por meio de seus drones macabros. E o Brasil segue
aprofundando sua cooperação com Cuba e consolidando a integração solidária e
democrática por meio do Mercosul, da Unasul e da Celac, presidida por Cuba,
com sua generosidade e humanismo, e sem a presença arrogante e imperial dos
EUA. A diplomata da desintegração, aqui no Brasil, está fadada ao fracasso.
*Jornalista, Membro da Junta
Diretiva da Telesur.
Postado em 23/02/2013 ás 18:30
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